

Do que mais você
sente falta?
- Ahhh... acho que das
pessoas!
Júlia
Júlia Benedini Calil
Depoimento
Júlia Benedini Calil tem só 29 anos, mas já carrega em sua bagagem profissional experiências que transformaram sua vida. Ela, que teve acesso à fundação desde o colegial, para sessões de terapia com a psicóloga, fez cursinho por seis meses e prestou vestibular para Engenharia Agrícola, ingressando na Universidade Federal de Lavras (MG), no segundo semestre de 2006.
Durante o curso, frequentado predominantemente por homens e com uma característica voltada para a mecanização dos processos, ela se viu apaixonada pela produção de café durante um estágio em que trabalhava com a pós-colheita. «Não sei porque fui mexer com café. Sendo de Ribeirão Preto, deveria ter ido para o lado da cana», brinca.
Depois de formada, Júlia participou de alguns programas de trainee até alcançar uma vaga de assistente técnica em uma multinacional de defensivos agrícolas. Iniciou em Poços de Caldas na área em que já possuía certo domínio, a de processo de qualidade dos cafés, prestando auxílio aos produtores quanto à propriedade e rastreamento do produto, entre outras atividades. Depois de quatro meses, foi designada a ajudar unidades nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, sendo que, neste último, estabeleceu pouso na cidade de Patrocínio por quase cinco anos.
De volta a Ribeirão Preto e sem desempenhar a profissão, Júlia rememora, com lágrimas nos olhos, o tempo em que passou em terras mineiras. “Lá, eu tinha mais que clientes. Não importava se eram grandes ou pequenos produtores, eu os ajudava da mesma forma e além do que eu precisava fazer. Não me custava nada e era extremamente prazeroso ensinar algo que eu sabia para que pudessem ter melhores resultados. A amizade deles era o meu maior retorno”, conta.
Hoje, dedicando-se a preparar refeições mais saudáveis, voltadas a quem busca uma alimentação equilibrada e/ou possui restrições a ingredientes comuns, Júlia diz que, às vezes, não se sente útil pelo fato de estar trabalhando de casa e por não ter mais uma convivência
direta, estreita, com pessoas.
A saudade da vida simples e do acolhimento que tinha em Patrocínio é evidente em sua narrativa frouxa e saudosista, mas talvez ela não saiba ou não tenha percebido, ainda, o significado das palavras do escritor moçambicano Mia Couto.
"Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Cozinhar não é um serviço. Cozinhar é um modo de amar os outros".
Não são mais as mesmas pessoas, não é mais o mesmo lugar, e o tempo e a Júlia não são mais os mesmos. O dom que exerce agora alimenta o corpo, mas a essência é a mesma e é ela que alimenta a alma.